Falamos muito sobre empatia. Queremos ser pessoas empáticas. Vemos alguém em sofrimento e temos o imediato desejo de chegar mais perto e dizer “ Poxa, eu sei o que você está passando, já passei por isso.” Pronto, em alguns momentos isso já é o bastante, o suficiente para sentirmos que praticamos nossa porção empática do dia. Seguimos em frente nos sentindo mais tranquilos de que ajudamos o outro de alguma forma. Em outros momentos usamos essa frase como uma espécie de porta de entrada, pois logo em seguida começamos a falar sobre nós. Tendemos, com frequência, a contar uma longa história pessoal talvez com a intenção de mostrar ao outro (aquele que sofre) como estávamos certos ao dizer que sabemos bem o que ele está passando. Mas bora gastar um tempinho para olharmos nossas ações e intenções mais de perto? Me acompanham numa investigação interna de nossas motivações frente ao sofrimento das pessoas com quem convivemos?
Um ponto importante para começarmos a refletir é o fato de que por mais que solidariamente desejemos sentir exatamente como o outro sente isso dificilmente será possível. Nós somos pessoas diferentes e, mesmo que tenhamos passado pelo mesmo evento (o mesmo assalto, uma mesma doença, o mesmo acidente), a forma como significaremos e sentiremos emocionalmente este evento tem relação com toda nossa vida e mais uma infinidade de funcionamentos internos só nossos. Em outras palavras, frente ao mesmo estímulo sentimos com intensidades diversas e de forma particular. Que tal se, ao invés de acreditarmos que porque conhecemos o outro já sabemos tudo o que se passa dentro dele, nós nos contentássemos com o fato de que ele sabe que sofre e que ele nos buscou para partilhar o seu sentir?
Nós por muitas vezes também sentimos e sofremos. Assim nos reconhecemos, de certa forma, no outro. Somos ambos seres que sentem. Além de sentir, o outro pode, muitas vezes, demonstrar que precisa de algo. Talvez por isso nos tenha buscado, talvez por isso esteja partilhando o que passou e o que sente. E isso também nos conecta. Nós também precisamos de algo, sempre. Sabemos como é precisar, não da forma dele, mas da nossa. Sabemos que já precisamos antes e que amanhã tornaremos a precisar. Talvez por isso estejamos ali também, partilhando com este outro alguém que hoje sofre. Se tivermos em mente que não sentimos e pensamos exatamente como o outro, fica mais fácil pararmos de supor do que ele precisa. Ao reconhecer que não sabemos ao certo o que se passa dentro do outro tendemos a sentir genuína curiosidade e passamos, então, a perguntar com interesse e atenção. Desta forma temos a possibilidade de conhecê-lo melhor, de compreendê-lo e de, quem sabe, oferecer a ele algo que realmente faça sentido, já que o ajudará a suprir uma necessidade que ele sinta e reconheça.
Há ainda um segundo ponto importante quanto a forma como costumamos praticar a empatia, e este ponto se refere a qualidade de presença. Quando passamos por algo muito duro, algo que desencadeie dor e profunda tristeza sentimos que é quase impossível aguentar o baque sozinhos, então buscamos a companhia de alguém. Quando isso acontece estamos completamente tomados de sentimentos e pensamentos. Nessas horas queremos alguém que se coloque neste turbilhão confuso e doloroso conosco. Queremos presença. Precisamos de alguém que esteja ao nosso lado mesmo que estejamos despejando frases desconexas incessantemente. Mesmo que estejamos apenas chorando ou em silêncio. Nestes momentos não temos espaço interno pra escutar, compreender, analisar ou ponderar. Precisamos esvaziar e desejamos a companhia de alguém, talvez por temer este vazio. Neste sentido não importa se o outro já passou por algo parecido ou não. Temos necessidade de escuta, de confiança, do apoio de alguém que nos permita sentir. Que talvez até diga “Não sei o que te dizer, isso é muito difícil, mas estou aqui. Estou aqui.” Ou que não diga nada, mas que realmente esteja presente.
Há um artigo interessante chamado The Neuroscience of Everybody’s Favorite Topic que aponta que quando falamos de nós mesmos são acionados em nosso cérebro os mesmos centros ativados na experiência com sexo ou com o uso da cocaína. Compreender isso não implica em acreditar que não saibamos falar de outros assuntos e que nada mais realmente nos interesse. Mas nos ajuda a cultivar uma pulguinha que pode ser uma importante aliada em nossas relações. Uma pulga que nos pique sempre que tenhamos o impulso de, enquanto o outro fala de si, começar a “partilhar” algo nosso. Não acredito que 100% das vezes que contamos nossas vivências estejamos sendo motivados por prazer ou narcisismo. Mas se estivermos dispostos a escutar esta pulga a nos perguntar “qual a razão de querer falar disso agora ao invés de apenas oferecer minha presença e continuar a escutar?” pode ser que aprendamos coisas importantes sobre nós. E pode ser que comecemos a nos aproximar da tão desejada empatia de forma mais real e significativa. A empatia pode ser algo incrível e nos ajudar a viver uma vida com mais sentido. Mas é importante que não venha só, e sim que seja acompanhada de autorreflexão, compaixão e uma pitadinha de desapego.

LARISSA ROXO – Assessora em Comunicação, Coach e Fonoaudióloga CRFª 13 921

Graduada em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica PUC/SP;
Aprimoramento em Saúde Coletiva pela Universidade Católica PUC/SP;
Certificada pelo Instituto Holos de Qualidade através da International Coach Federation como Coach e Mentoring;
Pós graduada em Motricidade Orofacial com Ênfase em Disfagias no Âmbito Hospitalar CEFAC/SP;
É  Coach em comunicação e Fonoaudióloga clínica. Com atuação no desenvolvimento de pessoas para o aperfeiçoamento da competência comunicativa, aprimoramento da comunicação verbal, comunicação não verbal, escuta ativa, recursos vocais, comunicação não violenta e transformação de conflitos, desenvolvendo comunicação assertiva, autentica e compassiva para o relacionamento interpessoal e profissional.

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