SOFRIMENTO E DOR

O sofrimento inútil é uma duplicação sem sentido da dor. Podemos falar na dor física e na dor emocional. A primeira, às vezes, não podemos evitar. Enquanto a segunda, podemos evitar desde que nos esforcemos para isso.

A chamada Mindfulness Psychology – sem tradução para o português – e geralmente citada pelo nome em inglês ou como Psicologia da Atenção Plena é uma das vertentes da psicologia cognitiva. E uma das técnicas para tratamento mais incríveis dentro desta vertente é voltar a atenção para o momento presente.

Por exemplo, imagine que você está com um grande problema que vai ter de ser resolvido no próximo mês. Como só poderá ser resolvido daqui a 30 dias, não adianta se preocupar desde já, pois não há nada que possa ser feito. Com isso, se você voltar a sua atenção para o momento presente e perguntar:

– Agora-agora, existe algum problema? Nesse segundo, nesse minuto, há algum problema ou está tudo bem?

Aposto com vocês que, em 99% das vezes a resposta será: Agora-agora, nesse segundo, nesse minuto esta tudo bem. No restante das vezes pode existir algum problema, como uma dor física.

A DOR É INEVITÁVEL, O SOFRIMENTO É OPCIONAL

A dor é uma resposta do organismo para alertar para algum problema. Por exemplo, nestes últimos três dias, estou sentindo uma forte dor de uma inflamação do siso superior esquerdo. Evidentemente, já marquei o dentista, mas enquanto espero a consulta e alivio um pouco a dor com anti-inflamatórios, a dor não passa de todo.

Por isso, dentro da Mindfulness Psychology, dizemos que a dor é inevitável. Porém, o sofrimento é opcional porque o sofrimento é a resposta emocional para a dor.

Se você tem uma dor física – como uma dor do siso – você pode aceitar a dor e tomar as providências necessárias ou você pode ficar se lamuriando, chorando, se colocando na posição de vítima, de incompreendido, de uma pessoa que não tem sorte, que não merecia. Ou então você pode cair na posição de irritação, de querer brigar, de gritar com os outros e com si mesmo…

Deste modo, ou de outros modos possíveis, nós estamos criando sofrimento. Sofrimento inútil porque faz parte da vida passar por momentos agradáveis e desagradáveis. Paradoxalmente, ao não aceitar uma dor física ou uma situação desconfortável nós criamos mais sofrimento do que se aceitássemos e deixássemos o estímulo externo ou interno ir embora.

O sofrimento inútil é, então, uma duplicação sem sentido da dor. Podemos falar na dor física e na dor emocional. A primeira, às vezes, não podemos evitar. Enquanto a segunda podemos evitar desde que nos esforcemos para isso. É claro que podemos evitar também dores físicas, como alguém que reclama que está de ressaca em um domingo. Ora, a ressaca é consequência de ter bebido, portanto, foi uma escolha infeliz pela dor física subseqüente.

E quanto à dor emocional?

A DOR EMOCIONAL TRATADA COM ATENÇÃO

Como disse no começo, Mindfulness Psychology é traduzida também como Psicologia da Atenção Plena. A dor emocional é tratada dentro desta corrente psicológica através da atenção. A pergunta seguinte é: como? Como tratar o sofrimento com atenção? Ou seja, como utilizar a atenção como um remédio?

Muitos autores definem a palavra Mindfulness como sendo a capacidade de estar 100% presente no presente. A atenção foca-se no aqui e no agora: no que você pode ver, ouvir, cheirar, tocar ou degustar. Nada mais. É deixar de ser multitarefa para ser uni-tarefa.

Se você está lendo este texto agora, você está lendo este texto agora. Uma coisa por vez. Se você está caminhando, você está caminhando, um passo depois do outro. Um passo depois do outro, um passo depois do outro.

Outra forma de descrever o que é Mindfulness é de que toda existência está alinhada: o pensamento está no que está sendo feito ou sentido, o sentimento está junto das sensações corporais e a atenção está no espaço chamado aqui e na hora chamada de agora-agora.

A dissociação de fazer muitas coisas ao mesmo tempo ou de estar falando com alguém pensando daqui a um mês ou trazendo o que aconteceu no passado é muito estressante, desconfortável e negativa.

A questão é que muitas pessoas atribuem o stress, a raiva, a tristeza,o sentimento de insegurança a fatores externos, mas isto é apenas uma justificativa. Aprendemos muitas coisas na vida mas não aprendemos a controlar nossa própria atenção. Se aprendermos e podemos aprender a nos manter mais presentes no presente, passaremos a ver que o problema colocado fora – violência, trânsito, dificuldades de relacionamento, entre outros – começa dentro.

Como aquele paulistano super atarefado e estressado que finalmente tira férias, mas tem que encher o dia com atividades para não ter que ficar em silêncio, em paz, tranquilo. E, assim, volta das férias mais cansado do que foi.

Como dizia um professor da minha faculdade, não se pode tirar férias de si mesmo. Portanto, se você sai de férias você leva você mesmo. Se você acha que o problema é o outro ou a outra no seu relacionamento, verá os mesmos problemas em relacionamentos futuros. Se você troca de trabalho, mas não resolve as suas dúvidas ou insatisfações, continuará reclamando do trabalho.

De forma que é simples de ver que o mais importante que podemos fazer é cuidar de nós mesmos. Já conseguimos, no Brasil, entender que um corpo saudável é importante para viver bem. Fazer exercício físico, comer bem, dormir bem é fundamental para uma vida mais longa e saudável.

Porém, ainda falta entender que tão importante quanto a saúde física – evitar a dor – é conhecer a si mesmo e conseguir controlar as reações emocionais desnecessárias e prejudiciais. Lembre- se que você pode dar a volta no mundo, mas sempre terá você mesmo como companheiro de viagem.

Assim, não é melhor ter um companheiro ou companheira agradável e feliz? Que consegue apreciar com 100% de atenção o que está vivendo?

Fonte: psicologiamsn.com/

Psicólogo Clínico e Online, Coach, Instrutor de Mindfulness e Professor de Psicologia.
http://www.felipedesouza.com.br/

 

 

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